Bridgerton volta acertando em tudo, menos no seu protagonista

Durante a espera pela terceira temporada de Bridgerton, o sucesso da minissérie derivada Rainha Charlotte serviu para lembrar o forte da série principal: histórias de amor com muita química, é claro, mas também um novo jeito de apresentar romances históricos, com personagens complexos e conflitos reais. É com essa régua que Bridgerton se convida a ser medida agora que a espera de dois anos chega ao fim.

Uma mudança em relação à segunda temporada já é notada no primeiro episódio, quando o casal protagonista do ano anterior surge mais como fan service do que como motor da trama. A passagem de Anthony (Jonthan Bailey) e Kate (Simone Ashley) dura pouco, como imaginado, e logo uma extensão da lua de mel é anunciada como desculpa para afastá-los de cena. O visconde e sua esposa não têm um desaparecimento abrupto e injustificado como o do Duque de Hastings (Regé-Jean Page), e deixam o centro da trama para Colin (Luke Newton) e Penelope (Nicola Coughlan), casal querido pelos fãs da série e pelos leitores da obra de Julia Quinn.

Vários núcleos já conhecidos recebem novas dinâmicas neste terceiro ano, e três deles se destacam: as casas Bridgerton e Featherington, como esperado, e o surpreendente e bem-vindo arco de Will Mondrich (Martins Imhangbe) e sua família. É revelado, no começo da temporada, que o filho mais velho do ex-lutador herdou uma herança de antigos conhecidos e agora se tornou um barão, elevando o status de toda a família à nobreza. Nesses quatro capítulos (a temporada será lançada em duas partes), já podemos ver o casal Mondrich se adaptando à alta sociedade londrina e seus conflitos, o que funciona bem e traz temáticas diferentes à série. A produção aproveita o potencial desses personagens e os reintroduz em tramas que podem gerar frutos nas temporadas vindouras.

Em relação às Featherington, o tom muda completamente. Se antes as histórias giravam em torno da mãe tentando manter um status na alta sociedade com sua família que pouco se encaixa nos círculos almejados, agora temos Prudence (Bessie Carter) e Phillipa (Harriet Cains) casadas e em busca de produzir um herdeiro para a família. O grande acerto aqui é em encontrar uma abordagem que funciona nesse novo momento para a dupla, que espelha as irmãs más da Cinderela – antes perdidas entre não ser maldosas o suficiente para um viés mais dramático, nem engraçadas o suficiente para servirem de alívio cômico, agora elas se encaixam na comédia como o sapatinho de cristal nos pés da gata borralheira.

Já no núcleo Bridgerton, o grande destaque fica por conta de Francesca (Hannah Dodd). Embora Eloise (Claudia Jessie) tenha um bom começo de temporada, construindo em cima do desenvolvimento de episódios passados, é a irmã mais jovem quem ganha os holofotes como debutante na alta sociedade. Dodd faz um ótimo trabalho ao incorporar a mais singular das filhas de Violet (Ruth Gemmell), e cativa com sua abordagem singela da personagem. A história de Frannie está andando rápido, e é refrescante explorar a visão da personagem sobre o casamento, que não é idealizada, mas também não representa desprezo. O casamento, para Francesca, é uma porta de entrada para a liberdade longe de sua família – assim como passa a ser para a protagonista do ano três.

Penelope já era uma das personagens mais queridas pelos fãs, então o desafio aqui seria transformá-la em protagonista sem perder essa simpatia, e o roteiro convence nesse ajuste. Mas não tem como fugir: se Pen se adapta tão bem ao papel de estrela do show, os louros precisam ser entregues a Nicola Coughlan. O carisma da atriz e sua química com os colegas de elenco elevam as cenas, enquanto seu jogo de cintura dramático diante de vários tipos de situação é um trunfo nas mãos da produção. Seja drama, romance, comédia ou até um acesso de raiva, a atriz irlandesa tira de letra. Pontos extras para a equipe de cabelo e maquiagem, responsável pelo glow up digno de protagonista que representa muito bem a nova fase de Penelope.

O mesmo, infelizmente, não pode ser dito de seu par romântico. Entre muitas coisas que poderiam dar errado ao colocar a versão do Colin que conhecemos na série como um protagonista, a única que funciona a contento é a dinâmica com sua coprotagonista. Quem leu os livros sabe que o Colin da Netflix é um personagem completamente diferente do protagonista de Os Segredos de Colin Bridgerton, mas o problema não é a mudança.  Ao tentar mimetizar sua versão literária sem muito desenvolvimento, transformando-o da água para o vinho em um Colin libertino, a série pula etapas e só causa estranheza. Não ajuda o fato de Luke Newton não parecer se adaptar a esse novo personagem que lhe é apresentado. Nem os momentos claramente inspirados no Anthony de Jonathan Bailey, com uma intensidade forçada em cenas dramáticas, causam o efeito desejado.

Os quatro primeiros episódios do terceiro ano, enfim, têm muito do que faz Bridgerton especial: momentos musicais memoráveis, uma gama de personagens e enredos desenvolvidos com compromisso, drama familiar, fofoca e romance. É uma pena, porém, que isso só funcione como painel de época, e quando a trama afunila nos seus protagonistas resta a Colin ser um acessório para Penelope brilhar. Que os quatro episódios restantes permitam Colin crescer – ou então que Bridgerton se assuma definitivamente como um mosaico de subtramas

 

 

Fonte: Omelete

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