Luto e raiva na Rússia após perdas de dezenas de soldados na Ucrânia

Com flores e orações, russos em todo país prestavam homenagem nesta terça-feira (3) às dezenas de soldados mortos em um ataque no leste da Ucrânia que chocou e provocou uma onda de críticas ao Exército.

Cerca de 200 pessoas participaram de uma homenagem em Samara (centro), cidade natal de alguns dos soldados mortos. Este é um evento incomum na Rússia, onde as autoridades costumam manter silêncio sobre as baixas militares na Ucrânia.

Várias pessoas colocavam rosas e coroas de flores em uma das principais praças da cidade, curvando-se respeitosamente, ou fazendo o sinal da cruz, observou a AFP.

Um sacerdote ortodoxo recitou uma oração, e soldados atiraram para o alto.

Segundo a imprensa local, concentrações aconteciam em outras cidades da região, como Togliatti e Syzran.

Na segunda-feira (2), o Ministério da Defesa da Rússia reconheceu que 63 soldados foram mortos em um ataque ucraniano na véspera de Ano Novo contra um prédio em Makeyevka. A cidade foi ocupada pelos russos, na região de Donetsk, a qual Moscou afirma ter anexado.

O governo de Kiev afirma que o número de vítimas é muito maior.

Entre as maiores sofridas por Moscou em um único ataque desde o lançamento da ofensiva contra a Ucrânia em fevereiro de 2022, as baixas chocaram a Rússia e desencadearam uma avalanche de críticas de comentaristas nacionalistas favoráveis à intervenção militar.

A comoção, mais um golpe para o Kremlin após os reveses sofridos há alguns meses no campo de batalha, foi reforçada pelo fato de os soldados mortos serem reservistas recém-mobilizados.

“Não durmo há três dias”, disse Ekaterina Kolotovkina, esposa de um general russo e presidente do 2º Conselho Feminino da Guarda Combinada do Exército, na cerimônia em Samara.

“Estamos em contato permanente com as esposas dos nossos garotos. É muito difícil, é assustador. Mas não podemos desabar. A dor une”, acrescentou.

“A quem culpar?”

Três dias após o ataque a Makeyevka, anunciado na semana do feriado ortodoxo de Natal, o presidente russo, Vladimir Putin, ainda não fez comentários.

De acordo com o Ministério russo da Defesa, os mísseis foram disparados por lançadores múltiplos de foguetes HIMARS, um armamento fornecido pelos Estados Unidos às forças ucranianas.

Depois das derrotas sofridas por Moscou nos últimos meses em Kharkiv (nordeste) e em Kherson (sul), que provocaram críticas ao Estado-Maior russo, as baixas em Makéyevka representam mais um revés, com apelos à punição dos responsáveis.

Várias vozes se levantaram para denunciar o fato de as munições estarem armazenadas no mesmo prédio onde foram alojados os militares, que também tiveram permissão para usar seus celulares. Isso possibilitou sua geolocalização pelos artilheiros ucranianos.

“Que conclusões vão tirar? Quem vão punir?”, questionou Mikhail Matveyev, um legislador comunista de Samara.

Vários comentaristas pró-guerra também questionaram o número de 63 mortos, que consideram subestimado.

Com mais de um milhão de assinantes, a conta Rybar, no Telegram, denunciou a “ingenuidade criminosa” de alojar os militares junto a um depósito de munições, cuja explosão teria agravado o número de mortos.

Na Ucrânia, o governo afirma ter sofrido vários ataques russos desde o Ano Novo.

Na segunda-feira (2), o país voltou a ser atacado por drones fabricados no Irã, mas a maioria foi abatida, segundo as autoridades.

O presidente Volodimir Zelensky declarou que seu Exército havia abatido mais de 80 aparelhos.

Segundo o governador da região de Kharkiv (nordeste), Oleg Synegoubov, a segunda maior cidade da Ucrânia e sua região foram alvo de mísseis russos.

Os combates mais intensos ocorrem em torno da cidade de Bakhmut (leste), que não é estrategicamente importante, mas que as forças russas, lideradas pelo grupo mercenário Wagner, tentam tomar há meses.

 

 

 

 

Fonte: IstoÉ

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